Fundamentos básicos para a Acupuntura Vegetal Por:
Profa. Dra. Maria Christina Gaviolle*
Esta série de artigos tem por objetivo demonstrar os fundamentos básicos em que a acupuntura está embasada, pois é preciso ressaltar que ela é muito mais complexa do que o simples conhecimento da localização e aplicabilidade dos seus pontos.  

Por não fazer parte da mentalidade ocidental contemporânea, a acupuntura traz preciosidades simbólicas e literárias que merecem ser estudadas e consideradas, principalmente no que tange ao alcance do perfeito equilíbrio, símbolo de uma existência harmoniosa tanto dentro de cada ser como entre eles e a natureza.

Assim, é impossível falar de acupuntura sem antes tecermos algumas considerações sobre duas das várias correntes (ou escolas) do pensamento chinês: a do Yin Yang e a dos 5 Elementos.

A filosofia taoísta, base da Medicina Tradicional Chinesa (M.T.C.) e, portanto, da acupuntura, considera o mundo como um todo e que esse todo é o resultado da unidade contraditória de dois princípios. Que esta oposição também cria o equilíbrio entre tudo e dá origem ao desenvolvimento e à transformação dos objetos, pois, segundo a tradição, há um Yin, há um Yang, não podendo haver um sem o outro, ou seja, o Yin contém o Yang e este aquele.

Em outras palavras, a teoria do Yin Yang é baseada nos elementos de oposição, relação recíproca, crescimento e decrescimento das partes envolvidas, permitindo classificar os fenômenos e as manifestações concretas da Natureza, segundo caracteres físicos e conforme a qualidade e tipo da manifestação, dos movimentos e das transformações.

Quando olhamos ao nosso redor verificamos essa polaridade manifestada nos seres e em todas as coisas, cujos aspectos Yin e Yang podem ser exemplificados, respectivamente, por:

- Aspectos Yin: Lua, Terra, baixo, inverno, úmido, profundidade, repouso, tranqüilidade, feminino, mãe, concentração, obscuridade, frio, noite, quadrado, pesado, esquerda, norte-oeste, doenças de longa duração, potássio (K), interior, retração, sombra, ventral, raiz das plantas etc.

- Aspectos Yang: Sol, Céu, alto, verão, seco, superfície, movimento, atividade, masculino, pai, expansão, claridade, calor, dia, redondo, leve, direita, sul-este, doenças de curta duração, sódio (Na), exterior, dilatação, luz, dorsal, folhagem das plantas etc.

Mas, como ocorreu a manifestação da polaridade?

 

Segundo Lao Tsê: "O Tao produz o Um. Sendo o Um manifesto produz o Dois. Existindo o Dois, aparecem os contrários. Estes entram para a existência, ao produzir-se o Três".

Essas sábias palavras retratam a seqüência de três polarizações do Yin e do Yang.

Cabe ressaltar que Lao Tsê é tido como o "pai" do taoísmo, assim como Hermes é o "pai" do hermetismo...

Assim, no princípio das coisas existia no Universo uma energia única, também denominada primordial, que polarizada originou a primeira dualidade ou Yin e Yang ou, respectivamente, os aspectos lunar ou negativo e solar ou positivo.

A representação esquemática dessa primeira polarização foi feita em monogramas, onde um traço interrompido passou a representar o aspecto Yin e um traço contínuo o aspecto Yang.

Em uma segunda etapa, com a evolução dessas duas energias antagônicas, ocorreu uma nova polarização. Entretanto, como o Yin contém o Yang e este aquele, cada uma delas se polarizou em si mesma. Assim, o Yang foi polarizado em Yang e Yin, e este, por sua vez, em Yin e Yang.

A segunda polarização foi esquematizada por bigramas ou um conjunto de duas linhas sobrepostas, que passaram a representar o princípio quaternário encontrado no Céu, na Terra e no Homem.

Portanto, Yang polarizado no seu aspecto Yang recebeu o nome de Velho Yang e deu origem ao bigrama Verão; Yang polarizado no seu aspecto Yin foi denominado Jovem Yang e originou o bigrama Primavera; Yin polarizado no seu aspecto Yin recebeu o nome de Velho Yin e deu origem ao bigrama Inverno, e quando polarizado no seu aspecto Yang foi denominado Jovem Yin e originou o bigrama Outono.

Com a evolução natural das polarizações, ocorreu a terceira, que é bem mais complexa do que as duas anteriores, apesar de seguir o mesmo princípio de que há um Yin, há um Yang, não podendo haver um sem o outro, pois o Yin está dentro do Yang e este dentro daquele.

A representação esquemática da terceira polarização foi feita por trigramas ou a justaposição de um monograma, representativo do Yin ou do Yang, aos bigramas já existentes. Assim, Velho Yang, quando polarizado nos seus aspectos Yang e Yin, deu origem, respectivamente, aos trigramas Céu e Lago; Jovem Yang, polarizado em Yang, originou o trigrama Fogo e polarizado em Yin, o trigrama Trovão; Velho Yin polarizado em Yin originou o trigrama Terra e, em Yang, o trigrama Montanha; Jovem Yin quando polarizado nos seus aspectos Yin e Yang, deu origem, respectivamente, aos trigramas Água e Vento.

POLARIZAÇÕES DO YIN E DO YANG

 

 

Esses trigramas, em numero de oito, quando combinados dois a dois originaram os 64 hexagramas, os quais compõem o "I Ching" ou livro das mutações. As estruturas formadas por três (trigrama) e seis linhas (hexagrama) são denominadas em chinês "KUA".

Pelo exposto, verificamos que no mundo manifestado a polaridade está presente em todos os seus aspectos e que da manifestação dos contrários surge uma terceira coisa que só consegue a realização dentro de um contexto quaternário. Assim, os quatro "elementos" formados a partir da segunda polarização do Yin e do Yang representam o que os chineses denominaram de "Cosmogonia do Dragão", ou seja, Madeira, Fogo, Metal e Água. Esses quatro elementos correspondem, respectivamente, aos bigramas Primavera, Verão, Outono e Inverno.

Entretanto, considerando a Terra como "ponto central de observação dos fenômenos celestes", os chineses a acrescentaram aos quatro elementos já existentes. A partir daí, a representação quaternária passou a ser quíntupla.

Mas, o que os levou a tal raciocínio?

 

Partiram do pressuposto de que os elementos (ou movimentos) têm origem nos que lhes antecedem e dão origem aos que lhes sucedem, ou seja: a Madeira queima produzindo o Fogo; das cinzas da Madeira se forma a Terra; dentro da Terra se condensa o Metal; o Metal expulsa de si a Água e da Água brota a Madeira. Em outras palavras: a Madeira nutre o Fogo; a Madeira e o Fogo geram a Terra; a Terra engendra o Metal; o Metal gera a Água e a Água nutre a Madeira.

Porém, como tudo o que é manifestado respeita a Lei de Polaridade, existe um movimento contrário de energia, que foi esquematizado do seguinte modo: a Água apaga o Fogo; o Fogo funde o Metal; o Metal corta a Madeira; a Madeira esgota a Terra e a Terra absorve a Água.

Assim, vimos que toda a ação gera uma reação, fazendo com que a inter-relação entre os elementos, os seres e os fenômenos da Natureza não sejam arbitrários.

Leia também a segunda parte desta série de artigos.

* A Profa. Dra. Maria Christina Gaviolle é: Biomédica; Acupunturista pela ABA – Associação Brasileira de Acupuntura; especialista em Acupuntura Tradicional pelo CONBRAC – Conselho Brasileiro de Acupuntura; Membro da Comissão de Acupuntura do Conselho Regional de Biomedicina em São Paulo – CRBM 1ª Região; Mestre e Doutora pela Universidade de São Paulo. Sua tese de Doutorado foi pioneira na sugestão de um modelo experimental para o estudo dos mecanismos de ação da acupuntura. Já ministrou várias palestras sobre acupuntura e ciência. É autora e co-autora de dezenas de trabalhos científicos apresentados em Congressos e de outros publicados em revistas científicas nacionais e estrangeiras.  
e-mail: mcgaviolle@ig.com.br

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