Era uma vez um reino muito distante onde reinava um rei muito
poderoso e como todos os poderosos, muito mau e mesquinho. Tal
rei não se contentava com nada, nem bem tinha aumentado os impostos
e lá vinham de novo os seus cobradores em busca de mais impostos,
e ai daquele que reclamasse, o rei, era implacável na hora de
castigá-lo. Não havia a quem apelar.
O
rei, cercado de inúmeros interesseiros, possuía à sua disposição
defensores de todo tipo: os advogados, os soldados, os economistas,
os religiosos e o que mais fosse preciso para manter-se na posição
desejada, fazendo valer sempre os seus desejos. O tempo passava
e todos, à exceção da corte, reclamavam do rei, mas o que fazer?
Sua majestade possuía praticamente todas as flores azuis que nos
últimos anos tinha aparecido nas encostas das florestas nos arredores
de seu reino. E mais: bastava saber que alguém tinha encontrado
uma nova flor azul e pronto, lá vinham os cobradores de impostos
confiscá-la. Assim a cada dia que passava, o rei mais rico ficava
e, em contrapartida, os seus súditos ficavam mais pobres, fracos
e miseráveis.
Aqui,
cabe uma explicação: As flores azuis eram a origem de todo poder
que um humano poderia almejar, quem as possuísse seria invencível,
segundo a crença que vinha desde os tempos mais remotos. Crença
essa muito cultivada pelos poderosos da corte e em especial pelos
religiosos que viviam a pregar, difundir e cuidar para que o povo
nunca a esquecesse. Acreditava-se que as tais flores azuis, possuía
poderes que iam da cura da feiúra até a invisibilidade, daí, não
era à toa que muitos já tinham perdido a vida na busca de tais
flores, que ainda era considerada a mais linda da face da terra.
Fora
o rei, poucos eram os afortunados que detinham tal raridade: um
ou outro daqueles que viviam à sua disposição, permitia o rei
que as detivesse, e mesmo assim em quantidades mínimas, somente
o necessário para manter a diferença entre os pobres absolutos
e os poderosos. Os anos se passavam e nada indicava que haveria
mudança naquela triste situação que, aliás, segundo os mais velhos,
já vinha de muito tempo, desde a época do bisavô do rei, Maosão
I, o fundador do Reino das Flores Azuis.
Mas,
eis que chegou no reino um andarilho, um homem vindo de muito
longe e que nunca tinha ouvido falar das tais flores azuis. Assim
sendo, estabeleceu-se em uma pequena choupana que construiu nos
arredores da cidade e começou a dedicar-se ao que mais gostava
e sabia fazer: cultivar flores amarelas. Trouxera consigo algumas
sementes e, algum tempo depois, possuía um belo jardim. Belo para
ele claro, pois jamais alguém daquele reino poderia imaginar alguém
plantar flores e por cima flores que nada valiam, pois eram amarelas.
Logo,
o pobre homem ficou conhecido como o louco do reino e era motivo
de todo tipo de chacota. O rei, como todo poderoso, pouco se importou
com o pobre diabo, que é como eles chamam àqueles que não são
de sua laia, chegava a pensar que havia utilidade naquele forasteiro:
- distraia os seus súditos. O povo também não estava nem aí, ignorante
como podem ser os povos, chegavam a rir do pobre homem e sua tola
dedicação àquelas flores.
Mas
o tempo passou e aos poucos as pessoas começaram a gostar daquelas
flores de cor esquisita, pois se não eram poderosas, pelo menos
podiam ser observadas facilmente- eram cultivadas e ninguém as
proibia de serem apreciadas, já que nada valiam. E de uma espiada
aqui, outra ali, um dia alguém acabou levando uma para casa, escondido
é claro, não por medo do rei, mas da chacota dos vizinhos. Assim,
aos poucos, as pessoas começaram a gostar das flores amarelas.
Já não se faziam chacotas e ninguém precisava esconder ao levá-las
para casa.
Tempos
depois, já era comum passar em frente a jardins de flores amarelas,
havia até um zum-zum no reino de que as flores amarelas tinham
tanto poder quanto as flores azuis. Daí a ninguém mais procurar
flores nas florestas, as tais azuis, foi um pulo. No reino agora,
só se falava no poder das flores amarelas, até mesmo, alguns daqueles
que antes viviam ao lado do rei alardeando as flores azuis, agora
já pregava a todo pulmão a importância das flores amarelas. E
mais: a importância daquele sábio, que um dia chegou à cidade
com as sementes e começou a cultivá-las.
As
flores azuis começaram a sobrar pelas encostas das florestas,
não havia ninguém para colhê-las - agora, a sensação era o tal
sábio e suas flores amarelas. Quanto ao rei, acreditando em sua
corte, não durou a segunda safra das flores amarelas: um golpe
dos poderosos e lá foi ele para o calabouço. Um lugar frio e úmido
de onde ele podia ouvir muito bem a musica dos festejos de seus
antigos súditos. Quanto à corte, os poderosos, bem, esses estavam
muito ocupados: - Os juizes mudando as leis e proibindo o cultivo
de flores amarelas que, de agora em diante, seria crime inafiançável.
- - Os religiosos amaldiçoando aqueles que ainda ousassem falar
de flores azuis. - - Os soldados a cuidar das plantações para
que ninguém chegasse perto daquelas belas flores cor-do-sol.
Quanto ao pobre diabo, que um dia chegara ali para plantar flores,
continuava um pobre diabo, só que agora, ladeado dos mesmos interesseiros
de outrora e coberto de ricas vestes ocupava-se de gravar seu
nome na coroa: Palhação I, o fundador do Reino das Flores Amarelas.
Já o povo ...
Fonte:
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