Por:Rose
Aielo Blanco
Em 1997, mais
de 430 mil foram apreciar parte da obra de Claude Monet no Rio
de Janeiro. Em São Paulo o sucesso se repetiu. As obras
do pintor, o "Mestre do Impressionismo" revelaram para
os brasileiros um aspecto interessante de Monet: seu amor pelas
plantas e pela jardinagem.
Várias telas
expostas no Masp, em São Paulo, em 1997, foram criadas no
último período de vida do artista, fase em que produziu
grandes obras. Nessa época, Oscar Claude Monet (1840-1926)
vivia em Giverny, propriedade adquirida na Normandia. Foi lá
que ele cultivou um enorme jardim, construiu estufas e uma ponte
japonesa sobre um lago. O jardim, além de receber os cuidados
pessoais de Monet, chegou a ser tratado por 14 jardineiros! O amor
do pintor pelas plantas pode ser sentido por meio de suas obras:
as flores, a ponte japonesa, o lago com ninféias, o roseiral,
entre outros exemplos, estão presentes em seus quadros. A
ninféias, inclusive, formam um capítulo à parte.
Monet cultivava diversas espécies desta planta aquática
e passava horas estudando-as. Este carinho especial
pode ser comprovado em sete telas presentes no Masp, inspiradas
nas ninféias e no jogo de imagens que resultavam do efeito
criado entre as plantas e a imagem das nuvens refletidas no lago:
nuvens e ninféias aparecem compartilhando o mesmo espaço.
Em Giverny, além da casa cor-de-rosa, onde Monet morou até
à sua morte, havia o jardim, que ele transformou num mar
de flores inspirador de inúmeras pinturas, em todas
as épocas do ano. A paixão de Monet pela jardinagem,
iniciada desde os tempos em que viveu em Argenteuil, encontrou ali,
em Giverny, um campo vasto para se desenvolver. Este amor pela jardinagem
e por flores raras, além de ser o tema preferido em suas
conversas, era compartilhado com amigos, como o escritor Octave
Mirbeau que, em certa ocasião, lhe escreveu estas frases
numa carta: Como diz, vamos apenas falar sobre o tratamento
das flores, visto que a arte e a literatura são bastante
maçantes. Apenas a terra tem importância e amo-a como
se ama uma mulher.
Apesar de já estar perto dos 60 anos, durante os meses de
verão Monet levantava-se muito antes do sol nascer, para
registrar em seus quadros aquele momento da aurora em que o céu
mudava de cor e a névoa ainda pairava sobre o rio. Este sentimento
em relação à natureza e à harmonia universal
também ficou registrado em palavras, como na afirmação
que o artista teria feito à Lila Cabot: Se sair para
pintar, não se esqueça que cada uma das folhas duma
árvore tem a importância dos traços do seu modelo.
Claude Monet
no caminho da rosas da casa em Giverny
Os jardins de Monet
Em 1897, existiam
pelo menos 14 aspectos do jardim aquático de Giverny,
no atelier de Monet. O motivo do jardim das ninféias e o
seu espaço envolvente passaram a ocupar a maior parte do
tempo do artista, a partir desta época até o final
de sua vida. Nos seus últimos anos, Monet dedicou-se muito
ao projeto de aplicar suas idéias decorativas tanto na casa
como no jardim. Nesta tarefa, foi auxiliado por seu jardineiro-chefe
e mais cinco ajudantes.
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Quando instalou o
jardim aquático, entre 1893 e 1901, foi necessário
aquecer o pequeno lago para a colocação das ninféias
que Monet mandou trazer do Japão pois, sendo flores sensíveis,
necessitavam de temperaturas menos frias do que as oferecidas pela
água do lago. Sobre a parte mais estreita deste lago é
que foi construída uma ponte, em estilo japonês, retratada
em inúmeras obras do pintor. A combinação entre
o estilo da ponte e a colocação das plantas japonesas
permitiu que o jardim de Monet passasse a ser chamado jardim
japonês, embora faltassem elementos importantes de um
jardim japonês tradicional, como por exemplo, as pedras.
A ponte japonesa serviu de inspiração para que o artista
criasse uma série de obras. Desta série, fazia parte
A Ponte Japonesa, na qual, em primeiro plano, aparece
o lago das ninféias e, sobre ele, a ponte que abre a vista
para as margens, cuja vegetação rica e densa se reflete
na superfície da água. O céu, ao que tudo indica,
não aparece na tela propositalmente, para que o olhar concentre-se
na flora e na superfície da água. Esta série
de quadros inspirados na ponte pode ser considerada como precursora
dos quadros que retratam as ninféias, pintados mais tarde,
nos quais é possível ver apenas a superfície
da água coberta de ninféias, vista muito de perto.
A Ponte Japonesa,m,
1899 (Le Bassin aux Nymphéas - óleo sobre tela)
A ponte japonesa foi equipada com uma cobertura de madeira na qual,
mais tarde, foram plantadas glicínias, e serviu de modelo
para as representações extremamente expressivas e
abstratas da ponte entre os anos de 1923 e 1925.
O jardim era, de fato, uma obra-prima de Monet - concebido cuidadosamente
de acordo com as idéias do artista. Ali, até as formas
e as cores das plantas eram selecionadas sob os seus cuidados. Sabe-se,
por exemplo, que um dos jardineiros tinha a incumbência de
tratar permanentemente de manter a composição das
ninféias na superfície do lago, da forma desejada
por Monet. Esta área - arranjada de maneira artística
e, de certa forma, separada do resto do jardim - com as ninféias,
a ponte, a região à margem do lago com salgueiros,
íris, agapantos e o arco das rosas tornou-se fonte dominante
de inspiração para o artista.
Tudo isso ficou registrado não só nas telas. No ano
de 1908, ao se referir sobre as paisagens com as ninféias
que lhe inspiraram muitas obras, Monet escreveu estas palavras:
Estas paisagens refletidas tornaram-se para mim numa obrigação
que ultrapassa as minhas forças, que são de um velhote.
Mas, mesmo assim, quero chegar ao ponto de reproduzir aquilo que
sinto... e espero que estes esforços sejam coroados de êxito.
Artigo publicado
na
Revista Tempo Verde - ed.Julho/97
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